Ruas vazias

Ruas de pedras, vazias,

Livres de mãos, de olhares, de pernas,

de cabeças, vazias,

Livres de ódio, de lascívia, de ilusão,

de almas, vazias,

Ruas e suas curvas, cheias de cheiros, de passos calmos, de um desejo,

Das janelas, das suas varandas,

cheiro de ruazinhas, de lavanda,

O sabor das unhas intactas, bem longe, e caminha,

a ânsia, que não mais me alcança,

Que descansa,

E eu onde, quando, talvez,

Ando, por seu vazio,

E contorno a morte com a vida

Ruas que varam as ruas,

Num labirinto de atenção,

Num sonho sem sonho,

Ruas do interior, do meu pobre coração,

Que eu queria, que eu queria...

Ruas que tocam o sentido em seu vazio,

Ruas vazias de ruas,

Apenas os riscos, os seus pisos,

Dos meus passos, que ecoam sem emoção,

Do triunfo fúnebre, sem sentido,

Apenas caminho, em meu delírio,

Nas ruas vazias,

Na busca, por uma explicação,

No vazio, busco pelo completo,

Pelo cheio,

Mas sempre encontro a solidão.