Refúgio
No que me permitem o paraíso
fecho a cara, guardo a outra face
No que o encalço da loucura sem limites se coloca ante minha presença
entre os transeuntes
tomo-me como o mais fraco
dos deuses o mais forte, quem sabe
por calúnia e vergonha, por medo do que não posso espalhar
pelos amigos que mudam de mesa
pelos que se escondem debaixo delas
algo que temos entre nós dois e que ninguém pode perceber
e que me faz gargalhar toda noite
eu mostro, dentro da sombra de estimação
incríveis maravilhas
e a mágica está completa
e voce jamais poderá me ver
e me ter como gente direita
e me ouvir cantar a hipocrisia das costas largas
e a beleza dos prazeres decompositores
cheios de rimas e métricas consoladoras
desfaço-me da rima e da métrica
disfarço-me para que alguém tenha pena e se coloque acima da minha pessoa, algo que faço de bom grado
para ver sorrisos saltitantes antes de livrar-me da minha própria imagem
no que quebro o grande espelho e continuo mentindo para mim mesmo,
o maior dos acreditadores
querendo ser rei e destituir todos os reinados
cri ser fantasia o que era realidade
e agora,
morto pela própria poesia
o poeta mais uma vez
encontra refúgio em um sonho.