Vício
Notas diferentes não são as mesmas cores
não chegam ao meu encontro, não provam do meu vinho
notas diferentes não são dedos erguidos
nem batons escancarados, ou efeitos inesperados
em outras partes do corpo
o circo retinal pega fogo e voce não liga
seus dispositivos, eu escondo vários
pela sombra, o vazio, entre cortinas
escorro para trás da árvore da vida
por mera inconveniência
Não tenho culpa se o vento sopra
ou se o infortúnio qualquer dessa vida
bate à tua porta tão tarde
e a luz ainda sobre nossas cabeças
línguas de fogo, auréolas e chifres
passam correndo, levam minha nuvem embora
Deixo a menina dos meus olhos cair
ela se fere, chora, faz que quer parar mas continua
as superfícies sólidas não são um obstáculo
as roupas ficam, ela atravessa nua
Levo-a para uma fotografia tirada em um dia de sol
Deixo-a na cena a contracenar com as outras lembranças e onde alguns figurantes se escondem
mas é tarde demais,
demais, eu digo
Esta vida, ela me devolve, é um estorvo
E esse teu sorriso jogado aos quatro ventos
já não engana ninguém
Mas eu escapo, doutor
Eu sou a sombra que perambula na neblina
e este é o senhor piano
a senhora guitarra vem logo ali
aqui partilhamos o amor elétrico de cristo e krishna
quando estiveres numa varanda da Índia
lembre-se de mim
agradeço pelos seus votos de preocupação
mesmo João e Maria estão contentes
digam, estamos contentes, e eles aparecem mesmo
Ouça
cantigas de roda, espelhos e olhos d'água
caminhos velhos para novos continentes
cítaras tocando
notas diferentes
Lembre-se
Lembre-se
Lembre-se
Não somos mais crianças
são as cadeiras que se movem ao invés de nós