Vício

Notas diferentes não são as mesmas cores

não chegam ao meu encontro, não provam do meu vinho

notas diferentes não são dedos erguidos

nem batons escancarados, ou efeitos inesperados

em outras partes do corpo

o circo retinal pega fogo e voce não liga

seus dispositivos, eu escondo vários

pela sombra, o vazio, entre cortinas

escorro para trás da árvore da vida

por mera inconveniência

Não tenho culpa se o vento sopra

ou se o infortúnio qualquer dessa vida

bate à tua porta tão tarde

e a luz ainda sobre nossas cabeças

línguas de fogo, auréolas e chifres

passam correndo, levam minha nuvem embora

Deixo a menina dos meus olhos cair

ela se fere, chora, faz que quer parar mas continua

as superfícies sólidas não são um obstáculo

as roupas ficam, ela atravessa nua

Levo-a para uma fotografia tirada em um dia de sol

Deixo-a na cena a contracenar com as outras lembranças e onde alguns figurantes se escondem

mas é tarde demais,

demais, eu digo

Esta vida, ela me devolve, é um estorvo

E esse teu sorriso jogado aos quatro ventos

já não engana ninguém

Mas eu escapo, doutor

Eu sou a sombra que perambula na neblina

e este é o senhor piano

a senhora guitarra vem logo ali

aqui partilhamos o amor elétrico de cristo e krishna

quando estiveres numa varanda da Índia

lembre-se de mim

agradeço pelos seus votos de preocupação

mesmo João e Maria estão contentes

digam, estamos contentes, e eles aparecem mesmo

Ouça

cantigas de roda, espelhos e olhos d'água

caminhos velhos para novos continentes

cítaras tocando

notas diferentes

Lembre-se

Lembre-se

Lembre-se

Não somos mais crianças

são as cadeiras que se movem ao invés de nós

Igor Marques Rodrigues
Enviado por Igor Marques Rodrigues em 21/02/2018
Código do texto: T6260146
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