Camisa ... ... ... ... de forças
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A lua deixou de me falar.
O sol já não quer aquecer-me.
As flores não sorriem mais para mim.
O vento já não brinca com o meu cabelo.
Devo ter morrido!
Se não morri, quero morrer agora! JÁ !
Está tudo fechado à minha volta.
Encarem-se os factos: ACABOU-SE!!!
Ou não ? ... ... ... Um momento S.F.F.!
Parece que ainda não será desta,
que isto é só um sonho esquisito.
Daqueles muito feios. Bué !
A modos que é o castigo, pelo desdém
ou pela minha soberba vaidade
de não ser absolutamente ninguém.
Pois, então, será!
Aliás porque me vestiram, finalmente,
uma camisa-de-forças a estrear
feita precisamente à minha medida.
Tingiram-na de cores banidas
do arco-íris. MALVADOS!!!
Isto só para me atrofiarem !
E mais, aplicaram-lhe folhos
e as rendas do palhaço rico
com que sempre embirrei. Que raiva!
Cozeram na camisa botões absurdos
de madre pérola, imagine-se!
... e remataram-na com debruados
de ouro sobre azul,
exactamente iguais ao figurino
do meu principezinho preferido.
Por isso, chorei! Mas chorei mesmo!,
só que foi para dentro;
por fora pus a cara
de quem descasca pevides
e por isso eles não perceberam
que eu chorava; nem mesmo a camisa.
Essa, até se sentiu tão despeitada
pela minha máscara de indiferença
que se apertou tanto até me aleijar
com os meus próprios ossos.
Não me ralei
e aconcheguei-me dentro dela
à cruzeta... sim!, à cruzeta
que os maus deixaram "esquecida",
(mas de propósito, que eu sei!),
dentro da camisa
e para serem ainda piores
e me escangalharem ainda mais.
Se eu me queixar eles negam logo;
dizem que a cruzeta
é para me dependurarem
com a camisa dentro do armário
de onde eu nunca devia ter fugido.
Enfim, pura maldade!
Posto isto, moral da história
num sonho esquisito:
Sinceramente, sinceramente,
não entendi muito bem.
Se calhar falhou-me alguma cena;
um detalhe, uma legenda qualquer
em letrinhas minúsculas
ou das que passam tão depressa
que ninguém pode ler;
de um modo ou de outro,
fica tudo a dar para o deprimente,
menos para os tais malvados.
Eu sei e até já disse
que foi um sonho esquisito
que ainda se abalançou a pesadelo,
mas isso não podia ser, coitado!,
senão eu tinha de estar acordado.
...
Não te iludas, rapazinho!
No fundo, tal como tu, o teu pai
sempre teve medo do papão.
Dizem por aí os entendidos
que isso é cena de personalidade
e estruturada até... mas mal !
Entretanto, parece que havia
um senhor chamado Freud ou Froid,
absolutamente doutor e que explicava
isso tudo assaz direitinho.
Talvez ! Mas não há certezas de nada.
Aliás, a certeza tende a ser escassa
em quase tudo o que nos toca,
quanto mais nessas cenas... dos sonhos!
… … … Fim! … ... ( Prontos ! ) ...
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___________________________LuMe