Tem horas que tenho saudades de mim.
Das risadas que dei.
Das piadas que ouvi.
Das cenas bizarras que passei feito inseto.

Tem horas que tenho saudades de mim.
Do espartilho ajustado a cintura.
Dos olhos pintados pretendentes a gueixa
Das cruzadas que capitaneei 
por uma fé abstrata estirada
na estrada concreta.

Saudades de mim
Olhando a janela aberta ao vento.
Saudades do outro
Que não existe mais.
Da palavra dita e maldita.
Do sim, do não ou talvez.

Saudades do estouro da champanhe.
Da rima inesperada caída
na fonética humana.

Dos orixás e seus poderes.
Dos mistérios do Torá.
Das deusas de mil braços.
Mil vidas e magias.
Da elevação de Budha.

Tem horas que procuro-me
nas fotografias.
E, não me reconheço.
Aquele brilho de olhar
Apagou-se
Aquele sorriso fatídico
Desapareceu

Hoje sou a sombra
projetada no inverno.
Hoje sou o espectro
perdido no espelho.

E, se não me reconheço mais.
Se não me lembro direito
daquele personagem
errando o script.
 
Titubeando nas decisões.
Liderando revoluções imaginárias
Jogando xadrez psíquicos
com vilões e mocinhos misturados
no chão da sarjeta.

Tenho saudades de mim.
Dos anéis expressivos
Das frases chavões
E, das reticências que
percorreram pontes
E, se suicidaram por tédio.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 03/07/2018
Código do texto: T6380884
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