Saga de Eva

Comprei maçãs vermelhas

tão verdes que não amadurecem

como o olhar ao sol que cega-te

mas contemplas feito forasteiro

e sabes que é maravilhoso

Vendi as maçãs, dei-te outras

eram de um verde tão doce

como fechar os olhos ao beijo

e ensurdecer. Mas, se timpaniza

tu bem sabes que é lamento

Comi maçãs. Gestacionei-as ao ventre

e eram tão minhas, tão filhas

foi como digitalizar os dedos

sem ter de fato digitais nos mesmos

e ainda, assim, certificar-se do nascimento

Secretei maçãs verdes, feito suco

era cristalino, límpido e doce

como o mel agridoce de pseudo-abelha

e sem tê-las se quer espremido

ofereci-te todo, cada gota derradeira

Secretei maçãs vermelhas, feito água

como um sangue que antecede

aquele período da safra mágica

e fui-me infértil nesse pomar

que é de fato: o das maçãs na prateleira