Tornou-se um privilégio morrer de velhice

Se não for por uma bala atrevida,

por fruto do acaso, num simples passeio,

poderá ser, infelizmente, por obra do descaso

ou você nunca foi a um posto de saúde?

Que conversa mais macabra.

A-bra-ca-da-bra

e ponha o seu anjo da guarda de plantão.

Só nos resta isso, além da fé,

mas tem que ser muita fé.

O pátrio poder e os conselhos de mãe,

tudo isso foi transformado em balelas

e não cabe culpar as favelas,

comunidades, na verdade,

pois foi por pura covardia

ou quem sabe, por omissão,

que os nossos irmãos foram parar lá.

Difícil distinguir quem mais sofre,

só é fato, que o cidadão pobre,

foi sempre bem mais sofrido

e será que se tornou bandido

por abandono ou por rejeição?

Aliás,

abandono e rejeição tem uma forte relação.

Relação que não mais têm,

as autoridades com a realidade,

o médico com a medicina,

a menina com seus pais

e os sinais estão tão evidentes,

que o cidadão que ainda é decente,

se ressente, de tão descontente

e de tão decepcionado.

É inconstitucional a pena de morte,

mas sem sequer ser julgado,

alguém nesse instante está sendo fuzilado,

porque é um privilégio morrer de velhice

ou não havia sonda no posto,

quando algo de mal gosto ocorreu.

Mas,

mesmo sendo a saúde uma garantia constitucional,

lembre-se que é um privilégio morrer de velhice.

Quem disse essa sandice?

Ninguém disse, mas é o que se pratica

e na prática, é o que ocorre.

O que me assusta de fato,

é ter lido ou ouvido de alguém

-e não me lembro de quem,

que quem parte antes da hora

e não sabe que já foi embora,

não encontra a paz,

a mesma paz que já não tem,

mas que também,

não dá paz para ninguém.

Amém,

que isso é só mais uma teoria

e como todas as nossas leis também o são,

oremos, irmãos,

para que isso seja apenas mais uma mentira.