Tudo que o homem precisa
é de um ombro para lhe acalmar os ânimos revoltados
encaminhando os conhecidos para caminhos de fortuna duvidosa
como todas as fortunas
banhadas de presságios alegres e fantasias
de alegrias de dia ensolarado e de fome saciada no rosto de um mendigo
tudo que o homem precisa
é de uma pitada de silêncio entre os seus passos apressados
para perdoar aqueles que lhe feriram o coração e a nuca
e procurar uma brecha para demonstrar aos que lhe observam de longe, em imagens
que ele os ama verdadeiramente
e que se importa com o destino de suas diligências distantes
entre becos e precipícios e enseadas e nuvens
tudo que o homem precisa
é lembrar-se, diante de si próprio, que não passa de uma criança eterna
no éter do tempo, mestre de todos os curandeiros
descosturando o véu que encobre os meus segredos
e as minhas saudades e as minhas palavras movediças
basta um beijo
um beijo de amada ideal, cada amada à sua maneira idealiza
imagem e semelhança dos seus complexos
este complexado ambulante aqui
aqui
uns entre os duplos dos outros, uma mão contra a outra
apontando para direções fora deste plano e fora das linhas de raciocínio comum
com o amor de todas as coisas que perecem e que por isso mesmo permanecem
e o homem pode respirar o seu ar em paz
e pode ir e vir da montanha
e pode, como que num passe de mágica,
encontrar-se com os olhos que tanto quer encontrar
e contar-lhes que fiquem tranquilos
aqueles contratempos do passado… tudo brincadeira!
eu que sou cheio de brincadeiras
eu que apanho as flores-de-maio
eu que incendeio pianos de cauda
ouvirei que estou até com uma cor ótima
e responderei com um riso dissonante
tocando a harpa dos anjos
e dançando a valsa vienense dos Drummonds