Tudo que o homem precisa

é de um ombro para lhe acalmar os ânimos revoltados

encaminhando os conhecidos para caminhos de fortuna duvidosa

como todas as fortunas

banhadas de presságios alegres e fantasias

de alegrias de dia ensolarado e de fome saciada no rosto de um mendigo

tudo que o homem precisa

é de uma pitada de silêncio entre os seus passos apressados

para perdoar aqueles que lhe feriram o coração e a nuca

e procurar uma brecha para demonstrar aos que lhe observam de longe, em imagens

que ele os ama verdadeiramente

e que se importa com o destino de suas diligências distantes

entre becos e precipícios e enseadas e nuvens

tudo que o homem precisa

é lembrar-se, diante de si próprio, que não passa de uma criança eterna

no éter do tempo, mestre de todos os curandeiros

descosturando o véu que encobre os meus segredos

e as minhas saudades e as minhas palavras movediças

basta um beijo

um beijo de amada ideal, cada amada à sua maneira idealiza

imagem e semelhança dos seus complexos

este complexado ambulante aqui

aqui

uns entre os duplos dos outros, uma mão contra a outra

apontando para direções fora deste plano e fora das linhas de raciocínio comum

com o amor de todas as coisas que perecem e que por isso mesmo permanecem

e o homem pode respirar o seu ar em paz

e pode ir e vir da montanha

e pode, como que num passe de mágica,

encontrar-se com os olhos que tanto quer encontrar

e contar-lhes que fiquem tranquilos

aqueles contratempos do passado… tudo brincadeira!

eu que sou cheio de brincadeiras

eu que apanho as flores-de-maio

eu que incendeio pianos de cauda

ouvirei que estou até com uma cor ótima

e responderei com um riso dissonante

tocando a harpa dos anjos

e dançando a valsa vienense dos Drummonds

Igor Marques Rodrigues
Enviado por Igor Marques Rodrigues em 17/08/2018
Código do texto: T6421732
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