Coração a Óleo
Admirando um quadro em branco
Suas cores me fascinam
Todo aquele emaranhado
Todo aquele pincelado.
Eu ria de mim, ria de tudo
Por não ser capaz de ver as belas cores que me iluminam
Por saber que o quadro em branco era eu.
Nós somos nada
Mas o que é o nada?
Ele realmente existe?
Ou é apenas algo esperando para ser preenchido por qualquer coisa
Ou qualquer um.
Tanto faz, tanto faz
A beleza que sai de um pincel
É seu coração estampado com uma voz lúgubre de outrora
Somos listras em uma tela
E listras por listras não são nada
Precisamos de mais
De mais
De muito mais
Precisamos de tudo
Do seu coração
Da sua alma
Do seu fôlego e de suas cansadas pálpebras
Porque seguimos em frente
Precisamos seguir.
Devoramos traços e mais traços
Tentando ser uma Noite estrelada
E nos tornando um deformado Ecce-homo
Siga o rumo, siga a estrada
Mas nunca olhe para o céu
Ou ele olhará para você.
Viva sua vida, viva sua escolha
Mas nunca escolha viver
Nasça, cresça e seja
E não pense no que fazer
Estamos ocupados demais tentando morrer.
Viva sua vida
Seja sua história
Mas queime os livros
Viva de paranoias.
O homem alimenta a besta que alimenta o homem
De migalha vivemos e das migalhas crescemos.
Nunca sendo
Nunca vendo.
Siga em frente e vire para um lado
Não há caminho certo, mas todos são errados
Seja como for seja no que der
Hasteio minha bandeira em chamas de uma pátria que já se foi
Luto meu, luto seu
Somos todos assassinos
Somos todos os heróis
Expulsamos os vilões mas adotamos as contradições.
Vivendo da margem
Escrevendo pela borda
Espero minha vez
Numa fila de talvez
O que é certo se o certo é sempre errado
O que é bem se o mal sempre vence
O que é pureza perto da beleza.
Vivendo na inércia
Sofrendo em livre queda
Não quero um lugar ao sol
Só uma sombra para repousar
Um prado para me deitar
E me silenciar
Silenciar.