A Mulher que Amava Demais...
 
Seu principal rótulo,
Seu mantra,
Seu elixir da vida
Era amar demais,
Conforme sempre dizia aos amigos
E parentes.
 
Por isso, tudo,
Mesmo o ato mais absurdo
Era justificável perante o seu escudo.
 
E não foi, que a vida lhe trouxe um homem,
E esse lhe deu filhos,
E casa,
E netos.
 
Deram festas,
Aleluias,
A vida era fartura
Sob as bênçãos de um eterno arco-íris.
 
Porém,
Por inveja de alguns demônios,
Esses seres alados,
Destinados
A fazer das nossas vidas
Um jogo de dados,
Tiveram inveja dela,
Que somente amava demais.
 
E foram partindo
Aos poucos,
Todas as suas alegrias.
 
Quando se quer destruir
Uma família,
O primeiro,
Feito dos invisíveis
Foi tirar-lhes a abundância
E veio-lhes a ruína.
 
Os filhos,
Tão amados,
Partiram pelo mundo em busca
Do sustento,
Pois o lar feliz era agora
Apenas um moribundo.
 
E o marido,
Foi derretendo,
Mudando,
Virando um monstro aos olhos
Dela que somente e somente se;
Quis amar demais.
 
E a vida lhe levou o homem.
E a doença lhe tirou a saúde.
Os anos a beleza.
E os deuses a viram se encher de tristeza...
 
Exaustos e felizes os demônios se vingaram,
Porém,
No auge da sua aflição,
Quando lhe iam retirar a alma,
Viram no fundo do coração
Uma luz cintilante,
Que reluzia fulgurante:
Um pequeno sol,
Sereno e pequeno,
Porém tão belo e reluzente,
Que lhes derrete os ódios,
Tornando-os singelos anjos do bem...