HISTÓRIA DE UMA CHÍCARA

Sílvia Purper.

Da mais fina porcelana chinesa,

pintada à mão, dinastia Mink;

frequentava as cortes, mãos reais,

a mais alta elite me admirava.

Um dia, num jantar, alguém tocou em mim,

tirando uma pequena lasquinha;

fui relegada à um canto, já não era perfeita.

Colocaram-me em um armário, esqueceram de mim.

O tempo passou, vagaroso, se arrastando . . .

e eu ali, no canto do armário, esquecida.

Não ouvia mais elogios à minha beleza,

ninguém sentia minha falta.

Um dia, já cheia de teias e poeira,

alguém me pegou, limpou, levou-me embora.

Outra casa, outra vida, outra época.

Classe alta, mas não eram nobres.

Fui colocada sobre a lareira, via tudo.

Crianças alegres, famílias felizes.

Eis que o destino, mais uma vez, atrapalha.

Alguém limpava a lareira, deixou-me cair.

Desta vez, quebrou-se minha asa . . .

mais uma vez, esquecida em um armário.

Depois de muito tempo, alguém, um dia,

tirou-me de lá, levou-me embora.

Novamente limpa, lavada, lugar de destaque

em casa simples, família simples.

Todos admiravam a perfeição de minha pintura,

a leveza dos traços, a delicadeza dos desenhos.

Mais uma vez eu era feliz.

Um dia, um gato perseguia um rato;

me derrubaram, pedaços por todo lado . . .

e eu, agora aqui, no cesto de lixo.

Frequentei altas rodas, festas luxuosas,

conheci todos os mundos, vi todas as pessoas.

Agora, só resta o lixo, pois não sirvo mais . . .

toda minha vida, de fausto e alegrias,

acabou-se por causa de um gato.

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