Atento às coisas falsas

Falsa é a impressão

de que o tempo passa.

Ele está sentado na praça,

observando enquanto a gente passa

e achando muita graça,

da nossa pressa idiota.

Ele também é agiota,

nos cobra por hora

e não com juros de mora.

Ele simplesmente ignora

os nossos valores superficiais.

Ele nunca é demais.

Ele não tá nem aí para a dondoca,

boboca,

com o seu excesso de vaidade

e na verdade até brinca com isso,

sepultando a todos de igual maneira,

num caixo de madeira -ou não,

de acordo com cada crença.

O tempo é nosso companheiro

-e não interesseiro,

como quem sepultou Cleópatra,

a primeira grande idiota,

tão múmia quanto esquecida.

O tempo é a escola da vida,

escolta do pequeno menino,

amparo do pobre velhinho.

Das meretrizes e das infelizes

e também de quem não é nada disso.

Ele tem o seu próprio feitiço

e não foi ele quem queimou as feiticeiras,

também suas companheiras,

mas estava lá presente,

em mais uma das nossas decisões

equivocadas.

Ele ficou muito triste com isso,

mas nunca abdicou do seu compromisso

para conosco

e mais intensamente triste fica,

quando o perdemos com coisas irrelevantes.

Ele sempre está à frente

e avante,

mas também é capaz de retroceder,

naquilo que chamamos de saudade

ou de arrependimento

e sempre se ressente quem não o entende,

mas o castigo e o perdão,

também são características dele

e como é um excelente professor,

esse tal de tempo.

Sabe ele que,

a dor, do amor,

também nos faz crescer,

para depois envelhecer

e aprender -ou não.