Com um olho no burro e outro no cigano

o cigano passou por mim agora

na garupa do seu burro cinzento

não conseguiu olhar-me nos olhos

parecia apressado mundo afora

a trotar perdido e a rir aos molhos

fiquei sem saber o que lhe dizer

aquele era o meu melhor amigo

que parecia não mais me conhecer

por isso fui ter com uma cigana

que leu baixinho a minha mão

fitou-me no viés do seu olhar

e perguntou-me com toda a razão

se não conhecia bem o meu amigo

através do seu olhar mediano

como observar sempre um gitano

sempre a não ver e a ver todos

sempre com um olhar incerto e fugaz

sempre com um olho no burro

e outro no cigano

Mongiardim Saraiva
Enviado por Mongiardim Saraiva em 04/02/2019
Reeditado em 05/02/2019
Código do texto: T6567221
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