Alegorias de um poeta

Num belo dia, o ínfimo me convida

A descobrir a essência da carne.

Essa que na terra a morte escarne

Quando enterrado o tesouro da vida.

Era um dia que na náusea funesta

Perecia minhas partes cotidianas,

E os coveiros nas geometrias euclidianas

Com suas pás faziam a festa.

Eu neguei o que via diante dos olhos;

Derramei lágrimas até a visão ficar turva

Arrisquei-me a emergir naquela curva

Que parecia ser o caminho para meus sonhos.

Eu me escorei muito em meus ganhos!

Sem saber que o destino tinha a coser

Um plano para eu conhecer meu ser,

Encheu minha vida de estranhos.

Como manuzeia o ouro o ourivides;

Numa barra, faz-se um tesouro

Carrego a matéria prima do meu couro

Aperfeiçoado pelos Ataídes.

E o que eu aguentei viver nos anos?

Meu corpo, as cicatrizes que criei

Os pedaços de carne, que na lixeira encontrei

Foram acasos, felizes enganos.

Me esqueci quando, comecei

A construir minha persona

Quantas vezes me vi na lona

Coçando ideias que rabisquei.

Fiquei quarenta dias de quaresmo

E pensei! Não é sobre eu encontrar alguém

Ou sobre viver sozinho sem ninguém

É não gostar da compania de si mesmo

Hoje o que você vê é um vencedor,

Mas tirando isso o que sobrou?

Sorrir para mim o coveiro, que me assombrou

Torssindo! Um nausorento fedor!

Com sua pá ignata e gasta

Apoiada! Em seu ombro sujo

Arrasta-se pelo cemitério como um caramujo

Aquele que enterrou os de mais alta casta.

Talvez distraido não observamos o explendor!

Que a morte, é a distância que nos une!

E a vida é o carrasco que nos pune!

A acreditar num tal de amor.

E do amor!? digo! desse mortal conforto

Que a carne oferece balançeada dieta

Que emagresse a libido, e à aquieta!

Quero apenas canta-lo como morto.

O que me assusta em ambudancia,

Não é os fantasmas do meu passado

Não é a idéia de ser obliterado,

É a doença crônica da ignorância

Caminhando e pensando em meus versos

Talves Vinícius, Drummond e Augusto Celeste

Assim como eu tentaram erradicar essa peste

Que dominaram os seus universos

E antes que eu me esqueça;

Procurei como um filósofo procura a existência

E como quem na escuridão procura a rutilancia;

A última peça do quebra cabeça.

E uma lembrança, em que sempre me aqueço;

É da luz que brilhava com rutilancia fria

No palco em que as cortinas se abria

Para o espetáculo do começo.

Alarde a tarde; quando finda. A que é bem vinda.

A noite, com sua frieza, enegresse tudo

O universo acalma, fica mudo

Diante da estrela que não brilha ainda!

Uma coisa brotou no meu ovário!

É quê, na sensualidade da vez

A resposta almejada era o talvez

Que abre as portas para o mistério!

Foi neste momento em que a cegonha

Jogou-me o que estava preso em seu bico

— O que faria rir um circo —

Peguei no colo a criança da vergonha.

Ah! Pobre sou eu e meus desejos

Mas na fraqueza que me rasga a carne

O que de dentro de mim escarne

São ferozes linces de gracejos!

No ar tangível dos meus cortejos

Sufocando nossas mãos na outra

Nossa quintura torna-se ultra

E nos entregamos a doces beijos!

Meus dedos, é o que, me é mais tredo

Curiosa parte de ascendência filisteia

Rudimentar! Que aranhando tateia

Tenta! Desabotoar o vestido do segredo.

Era o que me faltava, quando amanhecia!

O que não tinha achado nas aventuras!

Fui encontrar me jogando, no ocaso da ventura,

O que o finito não me oferecia!

Creio! Como um homem sincero

No pacto sagrado, que fizemos;

Que nós dois, unidos escontremos,

O infinito, do que eu espero.

E vestido de um luxuoso terno

Uma nova era o tapete estendia,

Que no escurecer daquele dia

Enterrou-se o homem moderno.