Ouro nos olhos do demônio

Não se preocupe, nada sobrará quando eu terminar

A labuta entretém o vazio

E o conteúdo está cansado demais

A vaidade corre nas veias do velho

O néctar da loucura estava longe

E pote terminou por se quebrar

Condenando o pobre à miséria mental

As respostas gravadas na pedra

Jazem no fundo do mar enterradas na terra infértil

O sopro do sagrado não tem utilidade para o rebanho em chamas

O pai esqueceu o nome do filho

E o filho está feliz mergulhado na lama

Sangrando pó a morte se arrasta

Para abraçar o homem de poucas palavras

Isso não se faz, companheiro

Ateaste fogo na cabana

E nem sabias o que entre suas quatro paredes jazia

Veja agora a cor da fumaça

O tom rubro de sua alegria

Escute agora a intensidade dos gritos

O agudo de sua satisfação

Veja as lágrimas do burro

Diria que lhe falta coragem?

Ou confessaria que lhe sobra maldade?

A mácula que iluminou o sagrado queima com a febre da luz

Onde se escondeu todo esse tempo?

Espero-te para devorar o que sobrou

Fizeste grande parte do trabalho

Mas deixaste um resto que não quer se calar

Seu verme inútil

Não percebes que ainda possui serventia?

O gigante de couro não se aquece nunca e sempre passa por aqui

Pisa no resquício e chora de saudade

Seu preço é alto demais

E minha alegria dura para sempre

Use seus dentes e despedace o inútil

A voz não se importa com o barulho

A voz implora por uma última tempestade

Sua queda no abismo

E seu fim no brilho de ouro

Ouro nos olhos do demônio

O cego do qual roubaste a luz

Está disposto a perdoar-te

O labirinto que escolhestes não fora suficiente

Nascera com chifres por obra do altíssimo

E há apenas um que nunca deixará

Nas calmas águas de seu olhar

Não se atreva a mergulhar

Refletindo bestas famintas

Cravando garras no que reluz

Sangrando e morrendo nunca

Pisando no que não mais se levanta

Tremendo diante de palavras que nunca ouvirá