ESTIO EM-CERRADO
Talvez a primeira lua da primavera
aceite serenar a noite.
Noites de estio não serenam e anoitecem cheias
de imprecisões e porquês.
Noites que esperam cores e chuva.
São noites, são burras, são apáticas.
Ignoram o estacionar da lua atrevida
nesse hotel de fogo e fumaça.
Primeira lua de primavera
vem adornada do sol na melodia calada do estio.
Vem clonada, riscada em papel carbono
Vem virgem-puta e bronze com certo recato.
Vem rubra-ouro dançarina de flamenco em brasa.
Vem prenhe e dá a luz do casulo de vapores.
Vem agreste e lacrimejante em seus orifícios gélidos.
Vem alquimista e transforma ouro em água.
Lua em cerrado
nasce em tronco,
cresce no fruto
e morre em broto
verde, não mais seco
porque já chorou demais.
E o escuro será céu.
Terra será terra.
Verde será o alimento se a água assim desejar.
Morto vivo,
pedra pedra,
mato mato,
bicho bicho. O fogo ao dormir sonhará que já foi fogo.
A noite será precisa e o cerrado não terá porquês.