A VOZ GRÁVIDA

A VOZ GRÁVIDA

A tua voz fica grávida de si mesma;

A tua felicidade anda sem graça e ainda pede esmolas por aí;

Sobre as inconstâncias do teu desejo, eu acabo dormindo sem querer;

Enquanto o sangue da minha vitória se mistura com o teu vinho derramado no chão;

Eu me pergunto sobre os acasos que não possuem nomes;

Eu mato a fome de quem quis me matar;

Eu desenho a sombra do meu próprio medo;

Eu procuro todas as coisas que eu quero perder;

Eu refaço memórias que não reaprendi a esquecer;

Eu crio barganhas e misturo cartas sobre a mesa;

Corro por aí para diminuir a minha tristeza;

Guardo os meus segredos debaixo da mesa;

Aprecio a esnobe vontade que sempre quer se sobressair;

Ofereço vaidades para mim mesmo;

A voz grávida continua inerte, sem ritmo e se vendendo por qualquer moeda;

Subo no prédio mais alto para observar a minha própria queda;

Começo a rir, chorar, soletrar e desdenhar de tudo que prometemos.

(Leonardo Campos Coutinho)

Leonardo Escritor
Enviado por Leonardo Escritor em 27/11/2019
Código do texto: T6805203
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