A VOZ GRÁVIDA
A VOZ GRÁVIDA
A tua voz fica grávida de si mesma;
A tua felicidade anda sem graça e ainda pede esmolas por aí;
Sobre as inconstâncias do teu desejo, eu acabo dormindo sem querer;
Enquanto o sangue da minha vitória se mistura com o teu vinho derramado no chão;
Eu me pergunto sobre os acasos que não possuem nomes;
Eu mato a fome de quem quis me matar;
Eu desenho a sombra do meu próprio medo;
Eu procuro todas as coisas que eu quero perder;
Eu refaço memórias que não reaprendi a esquecer;
Eu crio barganhas e misturo cartas sobre a mesa;
Corro por aí para diminuir a minha tristeza;
Guardo os meus segredos debaixo da mesa;
Aprecio a esnobe vontade que sempre quer se sobressair;
Ofereço vaidades para mim mesmo;
A voz grávida continua inerte, sem ritmo e se vendendo por qualquer moeda;
Subo no prédio mais alto para observar a minha própria queda;
Começo a rir, chorar, soletrar e desdenhar de tudo que prometemos.
(Leonardo Campos Coutinho)