Quisera...

Quisera eu ter o poder de curar as mazelas morais do mundo... isso certamente me arremeteria para séculos sem-fim de provações ainda por vivenciar...

Quisera eu ser mais ousado e assim poderia enxergar, sem olhos melífluos, a pobreza cultural, crescente de meu povo, a ignorância inocente dos trabalhadores rurais, a diferença da dor física e do medo destrutivo de alcançarem ideais...

Há um universo paralelo ao meu mundo. Essa minha vida pulsante é contrária aos meus princípios, costumes arraigados, modo de ser. Têm características embasadas na rígida formação sociocultural e familiar. Entendo ser esse mundo paralelo destrutivo de ideais fortes, capazes de subsistirem aos mais canhestros males...

Dessedentar a sede não apenas minha, mas dos meus afins, principalmente, não me é possível. A guerra entre o ter e o ser parece eterna. Não ousarei dizer que tenho forças para tanto.

Quisera possuir o encanto e frescor das águas cristalinas para amenizar, refrescar o calor abrasante que nos calcina os valores morais a duras penas conquistados...

Ah! Como quisera eu ser a brisa suave da manhã... embora tenha a agenesia que me obstam as vontades, assim poderia despertar todos os que têm medo de acordar. Faria isso com leveza e carinho e diria baixinho, sibilante, ao ouvido do ser necessitado que se espreguiçasse:

“Levanta! É hora de bendizer um novo e esplendoroso alvorecer. É chegado o momento de abrir a janela, escancarar a porta do teu coração e agradecer pelas benesses alcançadas; pelo ar que respiras e alimento que te mantém vivo; pelo cantar alvoroçado da passarinhada; pelos teus olhos brilhantes de saúde, efusiva e benquista felicidade...”.