NITIDEZ

Perdi minha hora

Bem na plataforma

Do todo agora,

...do bonde da aurora.

Resgato o bilhete

Da festa que infecta

Na pútrida orquestra.

Por dentre a vil casta

Aguardo na entrada,

Por uma alvorada.

Um alvéolo de gesto

Ao ar que sequestro!

Respiro abjeto.

No ato morfético

Do todo arquétipo

Dum tempo patético.

A terra perdi

A flor que urgi

Na esfera a ruir.

Perdi minha era

Do todo que era

Antes de cair.

Perdi o meu rio

Estou por um fio,

No fluxo arrepio.

Não rio vertentes

Nas águas do nada...

Que jazem na estrada.

Eu boio no cio

Do que não fluiu,

Sou frio calafrio.

Me esquento de verso

Do todo reverso

Que não se concluiu.

Sou nuvem que passa

Qual cinza pesada

Na tela suada.

Desenho de bicho

Num céu carcomido

Ao solo de lixo.

Desidentidade...

Rescaldos das gentes

Dum tempo indigente.

Um grito ardente.

Perdi o meu mar

Meu palco de atol,

Minha clave do Sol.

Caiadas cidades

Sem urbanidades...

Perplexidades.

Bestas...

das insanidades.

Meu verso clamei!

Bem pelas metades

Aos fantasmas das leis.

Constituição

Só verso em questão

Do tudo que é vão.

Só voo em Fênix

Do que projetei

No que acreditei.

Sou redemoinho

Tufão nos caminhos

Verso em pergaminho.

Nas horas perdidas

Procuro saídas...

Pela nitidez.

É tudo doído

Aos olhos aturdidos

Ao que não se fez...

Nas cinzas já idas

Levanto já sida!

A ser outra vez.