DELIRIUM AUGUSTI
A peste, mais e mais, vai se espalhando,
deserta quase, a rua, de viventes,
somente os mortos, tétricas caretas,
vão compondo um macabro festival.
As aves carniceiras saciadas,
crocitam seu negror pelos telhados.
O apetite necrófago das moscas
sobrevoando um corpo moribundo;
pegajosas, cinzentas e irritantes,
em zunzum, sobre as pútridas feridas,
lambem o pus que escorre na calçada.
No imundo passeio, vômitos, fezes,
os vermes fervilhando a lama escura,
um cheiro putrefato se esparrama,
e empesta o ar viscoso e envenenado.
Bactérias invisíveis se alimentam
das pústulas abertas pelo corpo.
E o poeta enlouquecido, atordoado,
tentando descrever a cena, em vão...
Os versos jazem tristes, amontoados,
e as rimas sem vontade de rimar.
(Passou a tarde toda lendo Augusto
e agora, febril, treme de susto...)
Um turbilhão no estômago convulso
e, ardente, um jato azedo a sopitar.
No jardim, borboleta em alvoroço,
sobre a flor sedosa e colorida!
Indiferente ao desgraçado moço,
que buscou famélico a comida
mas agora, vomita o seu almoço.