Soneto Surreal III

Dali, o Salvador, num fio de bigode,

Pintou "a tentação de santo Antônio";

Plantou a cruz de prata do demônio,

Num vaso de Comigo-ninguém-pode.

 

Dali, se foi daqui, com um neurônio

A mais do que herdou da sua avó:

Um neurônio emprestado de Miró,

Que fez do surreal um patrimônio.

 

Miró, Joan Miró, o catalão,

Andou, junto a Dalí, na contramão 

Forjando, no real, o abstrato.

 

E eu, que faço versos de improviso,

Olho a "metamorfose de Narciso",

E vejo, sem modéstia, meu retrato.

Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 14/03/2023
Código do texto: T7740267
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