Soneto surreal VII

Se Augusto dos Anjos fosse vivo,

Jamais escarraria em sua boca.

Ainda que por ele fosses louca,

E o seu coração fosse cativo.

 

O escarro, mulher, é tão nocivo

Quanto o pus da caverna pulmonar,

Que supura na hora de beijar,

Apesar de não ter um só motivo.

 

Mas Augusto morreu! Que Deus o tenha!

E mesmo que a saudade esteja prenha

Da inumanidade "do não ser"...

 

O beijo, esquecido no catarro,

Não há de dar ao último cigarro,

Um fogo de paixão pra acender.

Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 16/03/2023
Código do texto: T7741634
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