Sorte
Sonhos de Marte roçam a linha do desconhecido ventre azul
tentando torcer a membrana invisível de gases que sufocam o meu pulmão.
Tolos mártires defecam nas douradas vestes do rei ansião
juntando, sem saber qual se é, o divino e o profano.
Sereis o céu de outono crivado de santas carícias
para abrandar o sofrimento insensato de cada dia...
pois só assim regressarei dos meus desejos usuais
montando o meu suspiro mais profundo
e vestindo a esperança do perdão sem explicações.
Completarei estes versos desorientados saltando,
das mais pervertidas formas,
os lagos lacrimais que formamos outrora
ao trocarmos ósculos de adeus sem pensar na chance de ser apenas um ‘até breve’.
E bradando toda a sorte de infortúnios
prego as estacas, que um dia foram cruz,
no peito delicado dos rebentos drogados concebidos nas tardes incestuosas do teu passado.
Quem sois?
Selvagem aventureira, sem eira nem beira,
jogando teus restos nas esquinas de comércios...
Calça teus sonhos e some!
Sorte aqui é fruta que se consome sem nome,
e todo mundo come sem a menor fome...