FEIXE DE LUZ

Era um lume, um pequeno feixe de luz

que surgiu num natal profano

e o transformou em dádivas milagrosas.

Tateando com dedos sensíveis, essa pequena

chama faiscava um céu de estrelas multicores.

Todos os salões então foram preparados: limpos,

arejados e perfumados pra receber o solicitado...

E a casa se fez festa

E a noite se fez dia

E o choro se fez música

E a música se fez poesia

E a poesia se fez sonho

E o sonho se fez o real esperado.

Porém, o minuano bufou forte

deixando o feixe de luz azoinado.

E aturdido ele foi escorregando

por um túnel negro imenso...

Uma vastidão ilimitada de trevas

que separava o natal da quarta-feira de cinzas,

à qual o feixe desesperadamente tentava aclarar.

E ele foi dançando, rodopiando ao sopro

daquele perverso minuano que empurrava o feixe

e as nuvens do céu, fazendo cócegas na noite...

Então, a noite abriu sua bocarra negra e

mostrando a glote da lua que ilumina os seixos

perdidos numa pedreira gélida e cinzenta,

deixou as procelárias riscarem os céus

de pânico, enquanto o feixe continuava a deslizar

pelo túnel espacial escutando o som

das gargalhadas da noite, que ria-se dele

porque se apagava. Mas, o feixe não achou graça...

E ao chegar do alvorecer, as nuvens que sugam

as águas dos rios, mares e lagos, suaram...

Choveu.