DIVINO RETRATO

DIVINO RETRATO

O meu inferno é aquela musa sobreposta

Entre o castiçal e a moringa

A musa,

fixamente, olha-me fria

Apoiada ao cotovelo

sobre as quatrocentas e vinte oito páginas...

É Divina esta Comédia.

A fotografia de casamento sorri juras

O relógio ao lado

gira o tempo parado

na lembrança das flores

fotograficamente eternas.

O eterno pescador no quadro à esquerda,

encurvado, não cansa sua coluna

enquanto entalha o casco, a vida passa vagarosamente

A coluna da parede, à direita,

não sustenta o peso do tempo,

mas resiste às maldades dos homens

Oh, musa! (da página duzentos e sessenta e seis)

É chegado o momento de lhes pedir proteção.

Proteja os fracos

dos oprimidos,

para essa união, não há fundo no buraco,

a queda é dolorosa.

E a culpa...

A culpa vem dos anjos tristes que pousam suas asas sobre os homens,

E assim somos friamente aquecidos

Uma febre que não passa

No Canto X, o espaço é o purgatório,

Mas, aqui,

No silêncio da casa solitária de presente

os soberbos e os orgulhosos se escondem

nas frestas do telhado caído,

onde a poesia já não mora mais

Eis que meu paraíso se dá

à face refletida na tela da TV desligada.

Face, que me olha ao olhar-me

a fotografia

a musa.

Minha comédia.

Uma

lágrima

escorreu-me

forte.

E,

contrito,

a uma oração

dei início

Clebber Bianchi
Enviado por Clebber Bianchi em 08/05/2008
Código do texto: T980480