Biografia do Eu

Escorreram-me entre os dedos algumas loucuras.

Poucas, confesso, porque muitas, eu vivi.

Entre os pés no chão e a cabeça nas nuvens, tracei uma rota.

Não tão torta e não tão reta.

As sinuosidades é que abasteceram meus sonhos.

Dei-lhes a música, a poesia e a visão luminosa.

Tropecei em meus próprios novelos.

Enredos que me foram impostos à mercê de minha não aceitação.

Lambi estrelas, empanturrei-me de nuvens.

E coloquei-me a sós com a Lua.

Contei-lhe meu trajeto, minha persistência e algumas incoerências.

De alma nua, rasguei meu verbo.

Todas as conjugações, todas as insubordinações..

Com as pontas dos dedos, apontei minhas dimensões.

Enquanto o mundo desenhava seus limites, preocupei-me em quebrar os meus.

Águas, sóis, luares, estradas.

Linhas, letras, ângulos, patamares..

Escalei topos, deslizei versos.

E o tempo encarregou-se de me fornecer experiência.

Rendo-me a essa experiência estranha.

Estranha porque é feita de sombras e clarões.

Flashes em surdina; livres de pressão.

Experiência pura. Química da razão.

No momento, meus olhos são verdes.