Coa tristeza

Entre mim e Camões, sincera semelhança,

palavras de si compostas,

almas em si dispostas,

unidas por confiança.

Pera, coa, ainda assim

velhos ditames não dito.

De que importa tanto mais,

pois de Camões verbetes incito?

Na verossimilhança,

algo estupefato:

dificilmente a temperança

compõe nosso poema nato.

E de será que a vida

senão composição composta

de loucura desmedida?

Fogos nos ardem,

mas enxergamo-los.

Feridas contentes,

às vezes descontentes,

deleitamo-nos.

E no tão compor desconsertado,

convulsos versos resvalam.

Amores bem-amados

nocivos versos inalam.

Bebo da fonte, do tributo mór:

Entre mim e Camões,

rima de dó maior.

Se sintonia diversa,

que não se acabe ferida,

que não bata, dolorida,

alma tão dispersa.

E o meu versar não tem coa,

mas coa tristeza se constrói.

E também de ferida dói,

dói tamanha sutileza.

Se nele vejo a alma transformada,

o que há o corpo de procurar?

Se por Camões versejada,

a dor me vem rimar?

Andrea Sá
Enviado por Andrea Sá em 29/08/2008
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