Desencanto

É de rica produção

o amor em si extinto.

Pois não tão fácil azeda

o vinho branco, vinho tinto...

Não existe poema quando

a alegria de amor vem encostar

pois é que não pela dor

que o amor faz rimar?

Quando digo amor extinto

digo aquele que esfarelou,

aquele que morreu em brasa,

o tudo que acabou.

Mas quando pelo amor extinto

a poesia vem assolar,

o que há de fazer,

senão por amor sonhar?

E quando há sonho bom,

novamente palpitante,

o velho e puro amor

inda assim não era errante.

Só se extingue de verdade

o amor de lealdade

quando não há mais

poesia desamor.

Não se versa por maldade,

nem por teimosia indefesa

a dor de saudade,

de paixão incolor.

E quão profundo

o amor que extinguiu

torna verso todo o mundo

em amor que não mais viu.

Só há poema quando

a alma tão cansada

se vê longe d'outra alma,

velha alma bem-amada.

Só há inspiração

com o alento da dor.

Só há bela canção,

com o desencanto de amor...

Andrea Sá
Enviado por Andrea Sá em 01/09/2008
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