Desencanto
É de rica produção
o amor em si extinto.
Pois não tão fácil azeda
o vinho branco, vinho tinto...
Não existe poema quando
a alegria de amor vem encostar
pois é que não pela dor
que o amor faz rimar?
Quando digo amor extinto
digo aquele que esfarelou,
aquele que morreu em brasa,
o tudo que acabou.
Mas quando pelo amor extinto
a poesia vem assolar,
o que há de fazer,
senão por amor sonhar?
E quando há sonho bom,
novamente palpitante,
o velho e puro amor
inda assim não era errante.
Só se extingue de verdade
o amor de lealdade
quando não há mais
poesia desamor.
Não se versa por maldade,
nem por teimosia indefesa
a dor de saudade,
de paixão incolor.
E quão profundo
o amor que extinguiu
torna verso todo o mundo
em amor que não mais viu.
Só há poema quando
a alma tão cansada
se vê longe d'outra alma,
velha alma bem-amada.
Só há inspiração
com o alento da dor.
Só há bela canção,
com o desencanto de amor...