VIDA DE POETA

Na minha solene loucura, rasgo folhas,

de encontro ao peito, reinvento-me a

toda a hora, e, de novo, pé na estrada,

componho o irreversível, à luz da vela.

Prisioneiro de mim mesmo, de mi arte,

sou um poço de febre, que me trucida,

corpo e alma, jamais e nunca satisfeito,

com o que produzo, em toda a entrega.

Sei-o bem que falta sempre o que dizer,

em tudo que faça ou intente concretizar,

como se ficasse algures no meio do nada,

na inquietude alucinante, de meu quarto.

Num assomo de infertilidade e inspiração,

esmurro o cinzeiro vazio, e, eis, deambulo

feito sonâmbulo, quarto adentro, cerrada

a mão, com que enceno, a própria morte.

Porém, a momentos, aceno-me ao longe,

como que para te cumprimentar e trazer,

para junto de mim, banhando meu corpo

nu, em águas, cobertas, de rosas brancas.

Jorge Humberto

06/10/08

Jorge Humberto
Enviado por Jorge Humberto em 07/10/2008
Código do texto: T1215805
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.