Prece à poesia.
De volta a doce e terna
morada da poesia.
"Vinde a mim,
ó alma subalterna,
pura em demasia."
Quero antes a poeticidade,
que as efêmeras profundezas.
Quero antes a lealdade
das mais belas naturezas.
"Vinde a mim, ó parte inventada,
vinde fazer-me tua, fazendo
da rima minh' morada. "
Quero antes os mais dramáticos
pedaços, a mais insolente
palavra vã.
Pois o vácuo me completa
as tristezas, amargamente,
cria em mim a rima sã.
"Ó magno eufemismo,
vinde a mim mostrar-se,
vinde a mim como abismo
infinito a prostrar-se."
E tão, tão bela obra,
faz-se o gosto acre da boca.
Faz-se antes o gozo da alma lusa,
que as falhas da voz rouca.
Quero antes a poeticidade,
mesmo inventada pela
beleza lusa.
Quero a língua, que para o idioma
faz-se una, e para o beijo tão confusa.
"Vinde a mim, ó poesia mais singela,
ó alma tão aberta entre a cancela,
ó voz extremista na janela,
última flor da poesia mais bela.
Vinde a mim como um confeito,
Vinde a mim, primordialmente bela,
pois verdade feia, eu não aceito.
Aceito antes a poesia malvada,
mentirosa e infame.
Aceito se vier em forma de soneto,
cansada,
mas que o peito inflame...
"E por tudo isso, termino
minh' oração;
Deixo a última prece lusa
como ultima canção.
Peço alhures, e por tudo mais aquém.
Peço somente eterna poesia.
Amém."