Prece à poesia.

De volta a doce e terna

morada da poesia.

"Vinde a mim,

ó alma subalterna,

pura em demasia."

Quero antes a poeticidade,

que as efêmeras profundezas.

Quero antes a lealdade

das mais belas naturezas.

"Vinde a mim, ó parte inventada,

vinde fazer-me tua, fazendo

da rima minh' morada. "

Quero antes os mais dramáticos

pedaços, a mais insolente

palavra vã.

Pois o vácuo me completa

as tristezas, amargamente,

cria em mim a rima sã.

"Ó magno eufemismo,

vinde a mim mostrar-se,

vinde a mim como abismo

infinito a prostrar-se."

E tão, tão bela obra,

faz-se o gosto acre da boca.

Faz-se antes o gozo da alma lusa,

que as falhas da voz rouca.

Quero antes a poeticidade,

mesmo inventada pela

beleza lusa.

Quero a língua, que para o idioma

faz-se una, e para o beijo tão confusa.

"Vinde a mim, ó poesia mais singela,

ó alma tão aberta entre a cancela,

ó voz extremista na janela,

última flor da poesia mais bela.

Vinde a mim como um confeito,

Vinde a mim, primordialmente bela,

pois verdade feia, eu não aceito.

Aceito antes a poesia malvada,

mentirosa e infame.

Aceito se vier em forma de soneto,

cansada,

mas que o peito inflame...

"E por tudo isso, termino

minh' oração;

Deixo a última prece lusa

como ultima canção.

Peço alhures, e por tudo mais aquém.

Peço somente eterna poesia.

Amém."

Andrea Sá
Enviado por Andrea Sá em 21/10/2008
Código do texto: T1239943