MINHAS MÃOS

Minhas mãos,

Em amplo movimento de braços,

Movimento aberto,

Indiscreto

Sem falsos pudores,

Nos braços nus

Com poros dilatados,

E cheiros intensos

De carnes e de sexo;

Meu corpo,

Todo ele oferecido;

Minha raiva,

Gume de facas;

Meu rasgar de peito

(Este sangue que é de terra

E que em argila me concebeu);

Cravei-as no solo.

E de cada vez mais fundas,

Remexendo

Ofegantes os dedos buscaram

(Desflorando a pureza macia

E húmida do barro)

O léxico da vida,

Sua constância.

E assim,

Fecundada a semente,

Num último torpor de terra

E de suor,

Em húmus me tornei

E vida sou –

Divisível.

Jorge Humberto

(S.D…)

Jorge Humberto
Enviado por Jorge Humberto em 03/04/2006
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