POEMA DO VIR A SER (Parte I)

I

O sopro da vida...

A semente nasce do espirro do Sol

Milhões de anos afins

Entre o cansaço e a dor

O selo da vida

A Mente Divina semeia

Floresce as centelhas nos jardins

Do Éden do Amor

E - fez-se a vontade do Criador...

II

Nos universos nascentes...

Dos princípios do Sublime

Explodindo movimentos

Das sanhas das moléculas

Das infinitesimais partículas

Atômicas humildes

Eu - você e quem virá...

Dos colapsos angelicais secretos

Dos previsíveis recomeços

Da vontade do Pensamento-Luz enfim

As formas tornam-se assim:

Eu - você e quem será...

III

O Sol austero tem

Na boca o fogo

Queima as distâncias

Cria a luz que recria o dia

O Sol austero tem

Destino fixo

Mas gira em lavas

Em labaredas e leva

A fonte de fogo

Pr’além dos olhares

O Sol solitário

Solidário

Relicário da vida

Salienta a aura

Da perfeição

E exila o mundo...

IV

A Terra parte!

Vira as costas para o fogo do Sol

A Terra gosta da noite

Quer estrelas bem longe

E rapta a Lua prateada

Quer a solidão!

Mas na madrugada sideral

Há mistérios que norteiam

Transformações da

Lei do Princípio...

V

Quantos olhos espreitaram

A nossa milenar feitura

Mãos ocultas doutros mundos

Nos fizeram

Canções do barro e do ar

E o silêncio quis assim

Até que as explosões

De asteróides

Ferissem a nossa Terra

Com ondas de calor

E os sons

Da respiração da Via Lacta...

VI

É da essência

Que se encaminhem

Pelos ventos das Eras

As centelhas

Das amorosas idéias...

Como os aromas que

Exalam-se das flores que

Brotam dos pântanos

Desde as nossas primavas

Formações...

Mas os perfumes das Almas

Foram preparados pelos

Anjos do amor...

Enquanto relutaram

Outros princípios orgânicos...

VII

Acostumados às cavernas

Esperamos os ensinamentos

Éramos medo!

Até que entre nós

Um missionário

Cheio de coragem

Resolveu testemunhar o amanhecer

Só voltar ao pôr do Sol

A noite nos libertou

Ficando mais solitária...

VIII

Da boca do Sol

A luz queimava as peles

Mas o frio da escuridão fez-se presente

As chuvas recriaram os mares e rios

Os tremores moveram as terras

Dilúvios nos deflagraram...

Como andarilhos

Nômades às intempéries desmedidas

Descobrimos que:

Devíamos enfrentar os Monstros

Subir as montanhas

Vencer as florestas

Percorrer os geleiras

Atravessar os rios

Superar as tempestades

E nos proteger da noite...

Como um dia faria Noé!..

IX

Depois que a Terra

Ouviu as canções dos pássaros

Os ganidos das matilhas

Vindos das montanhas

O roncar dos mares

O aviso das árvores

Os líderes das vidas

Olharam-se entre si

E o cheiro das sementes

Brotaram nos sexos dos homens...

X

As chuvas inundavam os campos

O medo

O receio

Do desconhecido

O Deus dos raios atemorizava as vidas

Mas dos relâmpagos e dos trovões

Surgiu o fogo

Nunca mais seriamos os mesmos...

XI

Quando os cometas

Brilhavam pelos céus

Gritávamos de contentamento

Olhávamos a Lua

E os Deuses das colheitas

Mandavam-nos:

As flores

Da primavera

As Chuvas

Do verão

As caçadas

De outono

Os celeiros

Do inverno...

E as canções e danças de agradecimento

Retumbaram antes das guerras...

XII

Desenhamos na Terra

A chuva lavou

Nas areias

O vento varreu

No corpo

A morte levou

Mas nas rochas

O tempo guardou

Sangramos os dedos

A mensagem rubrou nossas linhas...

XIII

Das árvores caídas

Pelos raios de fogo

Inventamos a tocha

E iluminamos as cavernas

Lascando as pedras

E queimando folhas

Sonhadores...

E o frio da noite

No inverno da Terra

Buscou-nos só na morte...

XIV

O rio corre pelas margens

Desce as toras e os ramos

Desce os rumos e o tempo

As correntezas

Nos ensinaram o caminho

Dos peixes

Atingimos a foz

E os cardumes

De outros Deuses...

XV

A nossa mente

Quase não sonhava

Quando olhávamos as estrelas

Nas sombras

Desenhavam-se nossas sinas

Além das linhas das mãos

Do corpo físico

Nos templos dos Infinitos

Outras mentes sábias...

XVI

O Sol coloriu as águas

Beijou-nos

As areias eram solitárias

As asas dos pássaros

Atravessaram nossa vida

Nas praias onde achávamos

Que terminavam o mundo

E a providência...

XVII

Um dia

Um de nós resolveu

Enfrentar as ondas

E encontrou as ilhas

Outros continentes

E do sêmen de outras raças

Nasceram novos olhos

Novos cabelos

Nova tez

Outros homens

Outros Deuses

Outros templos...

XVIII

Aprendemos a sonhar

Com a fêmea ou com o macho

Com o gemido das crianças

Chorando pelas nossas tetas

Onde o leite derramava

Alimentando os nossos filhos

E os filhotes de nossos porcos...

XIX

O som da natureza

Copiamos

Batuques inventamos

E reproduzimos

O chilreio dos pássaros

Os uivos dos animais

Os pingos da chuva

Os lamentos das cascatas

As danças dos acasalamentos

E os nossos olhos

Nascidos do Sol

Corriam sobre tudo

Sorrimos...

XX

Foi milagre

O arco-íris

Na estação das chuvas

Então

Daquele dia em diante

Esperamos

A alma multicor se materializar

Nos céus do vir a ser...

XXI

Nas montanhas altaneiras

Escalamos as árvores

Atraíamos os animais

Com apitos de bambus

Caçávamos no silêncio

Das relvas

Filhos dos Deuses das Matas

E o condor nos observava

Quando morríamos à toa...

XXII

Um dia adoentamos

Febris vimos o

Espírito da Morte

Mas um de nós

Enxergou na noite

E falando com os mortos

Soube da erva da cura

Futuro Xamã

Feiticeiro

Oráculo

Entre líderes e reis poderosos...

XXIII

As guerras de hoje

Nasceram dos medos de ontem

Pregados na Terra

Queríamos voar

Chegar às estrelas

À lua

Ao Sol

E ser eternos

Mas a natureza quis

Que o homem dormisse

Apenas sonhasse

E depois morresse...

XXIV

Os grupos sabiam dos outros grupos

E competiam nas caçadas

Até que descobrimos que além da força bruta

Na mente criadora moravam as Leis de Tudo

O gênio criou os enredos

Que de boca em boca se tronaram cultura

A nossa própria história...

XXV

Dominamos os espaços

As manadas

As plantações

O fogo e a pedra

O ferro e a sarça

O templo e a lenda

Pensamos as marés

E olhamos a trajetória do Sol

Descobrimos o tempo

Tornamo-nos pastores

Soldados

Amantes e amados

Construímos a saga

Começamos a chorar

Os nossos mortos

E rir com as novas vidas...

XXVI

Um dia descobrimos a amizade

E trocamos objetos

Os sorrisos

Os olhares

Os favores

As mulheres vestiram-se de bailarinas

E dançaram em nossas noites

Descobrimos as alegrias

Os prazeres

Os amores

Mas também os ciúmes...

XXVII

As feras comeram nossos corpos

O lince, a onça, o tigre,

O leão, o leopardo

E as aves e as hienas

Comeram os nossos restos

Nos rios os crocodilos

Espreitavam nossos banhos

E as serpentes na terra

Querendo as nossas almas

Até que acordamos assustados

Embaixo de Pinheiros

Onde brotaram bosques de roseiras

Aos túmulos de ancestrais...

XXVIII

As águias que atravessaram as brisas

Do alto das montanhas

Avistaram as costeiras e as nossas caminhadas

E hoje repetimos a mesma sensação

Descendo de Asa Delta as colinas

Onde os sonhos de nossos antepassados

Morreram entre poemas e canções

Histórias e lendas

Escritos nas cavernas templárias

E em grutas minerais...

XXIX

As visitas dos Anjos

Despertaram novos ciclos

E moramos entre visitantes

Doutras estrelas mais lindas

As pirâmides da saudade

Foram construídas como presentes

E as ciências secretas nos

Papiros e pergaminhos

De sábios sacerdotes

E iniciados feiticeiros

Mudaram a história do mundo

Aos olhos de párias

De gentios e silvícolas...

Gigio Jr (Versos Brancos-2008)

GigioJr
Enviado por GigioJr em 21/01/2009
Reeditado em 20/09/2014
Código do texto: T1396747
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