O BEIJO DESCONCERTANTE DA MINHA VÓ.
O BEIJO DESCONCERTANTE DA MINHA VÓ!
Ela saiu do meu sonho.
E caminhou pela sala.
Com os passos firmes e rijos.
Beijou a mulher do meu filho.
Um beijo desconcertante.
Cravando aquele instante.
Na minha alma e na mente.
Uma visão contundente.
Ela se foi com oitenta.
No voo de passarinho.
E viu seus filhos brigarem.
E ralhou bem de mansinho.
Queria pitar seu cigarro.
Saborear canelinha.
E dar o troco pros doces.
E me chamar de “carrinho”.
E a mulher do meu filho.
Deu-lhe um largo sorriso.
E entendeu que “seu Carlos”.
Era o segundo “carrinho”.
E deu-lhe a vó, uns tostões.
Para comprar canelinha.
Pitar o seu “Macedônia”.
Na sala sem parcimônia.
E a minha mãe não estava.
E não estava meu pai.
Estávamos nós nesta sala.
Como uma nuvem que vai.
Que muda as formas a toa.
Como quem muda o destino.
Não sei se eu era o agora.
Ou se apenas um menino.
Quero entender esse filme.
Que a minha vida passou.
E mandar beijos na alma.
Para meus pais e a vó.
Assim deseja “os carrinhos”.
E todos que nessa sala.
E o beijo desconcertante.
Que meu mistério embala.