O BEM-TE-VI E O MALMEQUER

O BEM-TE-VI E O MALMEQUER

Josa Jásper

Um bem-te-vi, que mal me viu - feito cigana -

vaticinou, no próprio canto, a minha sina:

"Não acharás amor algum na flor humana,

mas só nas flores do jardim ou da campina."

"O amor das flores vale mais que o da mulher!

Hás de fluir, só de uma flor, o amor perfeito

e nunca mais consultarás um malmequer,

despetalando a pobre flor, desse teu jeito!"

E, após passar-me este recado tão profundo,

voou depressa, pra bem longe, o bem-te-vi!

Não sei pra onde, nem pra que lugar do mundo:

não declarou, não perguntei, nem o segui!

Pensei na flor, a cujo amor se referira...

Achei que fosse o amor-perfeito, em meu jardim...

Por muitas vezes, satisfeito, eu pressentira

que, ao pôr-do-sol, tinha sorrido para mim!

Porém, mais tarde, eu chegaria à conclusão

que o amor-perfeito me sorria por fineza.

Não me amaria, sem qualquer retribuição,

temendo o risco de esperar sem ter certeza.

E eu descobri que o bem-te-vi, que mal me vira,

ao malmequer, tão desprendido, bem o viu,

pois bem me quis o malmequer, como previra

e, em meu jardim, seu grande amor me seduziu!

Josa Jásper
Enviado por Josa Jásper em 25/02/2009
Código do texto: T1456933