O BEM-TE-VI E O MALMEQUER
O BEM-TE-VI E O MALMEQUER
Josa Jásper
Um bem-te-vi, que mal me viu - feito cigana -
vaticinou, no próprio canto, a minha sina:
"Não acharás amor algum na flor humana,
mas só nas flores do jardim ou da campina."
"O amor das flores vale mais que o da mulher!
Hás de fluir, só de uma flor, o amor perfeito
e nunca mais consultarás um malmequer,
despetalando a pobre flor, desse teu jeito!"
E, após passar-me este recado tão profundo,
voou depressa, pra bem longe, o bem-te-vi!
Não sei pra onde, nem pra que lugar do mundo:
não declarou, não perguntei, nem o segui!
Pensei na flor, a cujo amor se referira...
Achei que fosse o amor-perfeito, em meu jardim...
Por muitas vezes, satisfeito, eu pressentira
que, ao pôr-do-sol, tinha sorrido para mim!
Porém, mais tarde, eu chegaria à conclusão
que o amor-perfeito me sorria por fineza.
Não me amaria, sem qualquer retribuição,
temendo o risco de esperar sem ter certeza.
E eu descobri que o bem-te-vi, que mal me vira,
ao malmequer, tão desprendido, bem o viu,
pois bem me quis o malmequer, como previra
e, em meu jardim, seu grande amor me seduziu!