Humanos

Por que não sou pedra?

Por que não sou porta?

Por que não sou flor?

Sou isso, por não ser aquilo?...

Sou ela sem ser aquela?

Sou mesmo uma sonhadora!

Meu eu é um estranho

Que no ninho se embala

Não sentindo medo de nada

Sou pente sem ter cabelo

Cego diante do espelho

Bruxa de conto de fada

Por cada pedaço de mim

Visito a gruta secreta

Sou a entrada e a seta

Borboleta de asa quebrada

Biscuit de penteadeira

Sou mesmo caminho sem parada

Sem rima, sou verso de enfeite!

Que se debruça na janela

Laço de fita sem cor

Pensamento sem desatino

Rouxinol que não canta

Naquela gruta “el condor”

Fizeste-me tão mediana

Tão medíocre talvez

Sou um precipício

Que se engana

Sou para a abelha o néctar

Para a terra a cana

Nem sequer me disseste

O que vim fazer agora

Esperando sem demora

A morte que cedo se avizinha

Sou agulha sem linha

Que fura o vazio da aurora

Deus talvez reservou

Para si a divindade

E nos iludiu na procura

Da nossa santidade

Fez o poeta no momento

De Sua eterna loucura

Sou barqueiro

Que leva o nada

No mar de faces perdidas

Da roça a enxada

Do camponês vigilante

A chuva caída

Sou a ilusão

No momento do fim

Sou humana

E trago na alma

O perfume carmim

Guardando a pena da asa

Do meu querubim

Sou mesmo assim...

Enfim ...

Julia Rocha

Julia Rocha
Enviado por Julia Rocha em 21/03/2009
Reeditado em 29/08/2012
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