NO CENTRO DE ALGUM LUGAR

No centro de algum lugar

Apenas um ponto hesitante no espaço

Portas nos cantos

Janelas nos lados

Todas iguais

Todas abertas

Podendo subir

Podendo descer

Podendo seguir

Podendo voltar

Mas sem saber para onde ir

Nem mesmo chegou a sair

Ficou assustado

Ficou largado

Ficou isolado

Ficou apagado

Procurando

Alguém para ajudar

Alguém para dizer por onde começar

Alguém para mostrar o caminho a tomar

Mas não encontrou ninguém

E resolveu ficar

Naquele mesmo lugar

Para não enfrentar

Para não sofrer

Para não se arriscar

Para não se arrepender

Um ponto perdido

Um ponto escondido

No espaço vazio e escuro

Do centro de algum lugar

No centro de algum lugar

Apenas um ponto parado no tempo

Portas nos cantos

Janelas nos lados

Todas iguais

Todas fechadas

Tentando sumir

Tentando esconder

Tentando dormir

Tentando esquecer

Mas sem saber o quanto esperar

Nem mesmo chegou a contar

Ficou calado

Ficou magoado

Ficou cansado

Ficou sentado

Esperando

Alguém para confortar

Alguém para dizer quando acordar

Alguém para mostrar as estações a mudar

Mas não encontrou ninguém

E resolveu continuar

Naquele mesmo lugar

Para sua verdade

Para sua proteção

Para sua comodidade

Para sua preservação

Um ponto afastado

Um ponto passado

No tempo cruel e constante

Do centro de algum lugar

No centro de algum lugar

Apenas um ponto pesado no ar

Portas nos cantos

Janelas nos lados

Todas iguais

Todas trancadas

Querendo gritar

Querendo ferir

Querendo queimar

Querendo fugir

Mas sem saber como flutuar

Nem mesmo chegou a levantar

Ficou irritado

Ficou atolado

Ficou revoltado

Ficou mascarado

Evitando

Alguém para animar

Alguém para dizer como voar

Alguém para mostrar os elementos a formar

Deixou de aceitar alguém

E resolveu acabar

Naquele mesmo lugar

Para não mais se culpar

Para não mais se conter

Para não mais se odiar

Para não mais se render

Um ponto marcado

Um ponto agitado

No ar denso e sufocante

Do centro de algum lugar

No centro de algum lugar

Apenas um ponto brilhante no mar

Portas nos cantos

Janelas nos lados

Todas iguais

Todas com chaves

Podendo abrir e podendo fechar

Podendo entrar e podendo sair

Podendo partir e podendo ficar

Podendo ir e podendo vir

Agora sabendo tentar

Começou a experimentar

Ficou sensitivo

Ficou admirado

Ficou compreensivo

Ficou renovado

Agora aceitando

Alguém para explicar

Alguém para dizer o que compartilhar

Alguém para mostrar uma onda a dançar

Então encontrou alguém

E resolveu mudar

Naquele mesmo lugar

Para poder existir

Para poder viver

Para poder sentir

Para poder crer

Um ponto expandindo

Um ponto refletindo

No mar calmo e sereno

Do centro de algum lugar

No centro de algum lugar

De repente sentiu-se um tremor

E ouviu-se o estrondo de uma explosão

Seguida de um brilho intenso e de um calor

Que viajavam a anos luz pela escuridão

Preenchendo o vácuo

Iluminando a noite

Cativando amizades

Irradiando paz

Quebrando o silêncio

Soltando a imaginação

Erguendo esperanças

Germinando vidas

Cultivando o amor

Criando a poesia

Abrindo caminhos

Realizando sonhos

Aquecendo o corpo

Libertando a alma

Permitindo escolhas

Dividindo momentos

Construindo o amanhã

Multiplicando a fé

Refletindo imagens

Trazendo felicidade

Colorindo o dia

Era um ponto

No centro de algum lugar

Que havia explodido

Que havia compreendido

Que havia se encontrado

Que havia se libertado

Que se dividiu

Em milhares de partículas

Em milhares de elementos

Em milhares de descobertas

Em milhares de sentimentos

Que se espalhou

Em todas as direções

Em qualquer vento

Em todas as dimensões

Em qualquer tempo

E esses fragmentos

São parte de um todo

Que agora são livres

Que agora vivem

Que agora são presentes

Que agora sentem

Graças a um outro ponto

Que já havia se libertado

Que já havia se repartido

Que já havia compartilhado

Que já havia compreendido

Naturalmente

Sem precisar explodir

E que doou

Grande parte de seus elementos

Aquele novo ponto

De quem agora recebe

Grande parte desses novos sentimentos

Vindos do centro de algum lugar.

Mariangela Dal Sasso
Enviado por Mariangela Dal Sasso em 05/04/2009
Reeditado em 05/04/2009
Código do texto: T1523310
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