Poesia
Ela surge do nada,
Meu martírio mortal, maldição.
São delírios de estradas
estranhas, sem fim, sem razão.
É fatal! É loucura!
Escrever estes versos me ordena
Flui, emana doçura,
E provar seu sabor envenena.
Ela brota das flores,
Esparrama fragrâncias no ar.
Com corais multicores,
Faz seu leito no fundo do mar.
Eu a vejo em desencanto
Nos jardins, em lugares desertos.
Faz, da chuva, um pranto;
Nuvens, lágrimas, céus encobertos.
Na pupila, estrelas;
Em seu olhar, uma cósmica luz.
Suas mãos são tão belas.
Sua voz me dá paz, me seduz...
São visões em meus sonhos,
Sensações de carícias profundas
São prazeres medonhos,
Paraísos, florestas fecundas.
Em seus lábios, espinhos
Donde escorre bizarra bebida:
hidromel sabor vinho,
elixir perfumado de vida.
Cabeleira fantástica
Musa mágica, mística ruiva.
Uma trama trágica
No lamento dum lobo que uiva
Só suguei, dos seus seios,
O frescor dos mamilos suados.
São desejos sem freios.
Tantos beijos trocados, tarados.
Em seus vis pensamentos,
Sou qualquer coisa que ela quiser.
Faz, de mim, passatempo.
Quer jogar “mal-me-quer, bem-me-quer...
No final, é algoz.
No começo, fugaz esperança.
Lá no céu, albatroz.
Nos lençóis, fica exausta, descansa.
Mas é quem? Quem será?
um porém? um talvez? um senão?
É tão boa, tão má...
É garoa a transpirar de tesão...
E, por mais que eu ofereça,
é voraz e jamais se sacia.
Ela quer me a cabeça,
Mas sequer me sobrou poesia...