Escravo

"Quando escreve condenado está

à dor e à masmorra.

Porém, se pela palavra certa optar,

pode a algema tornar-se amor

e o suplício, desforra.

Pode assim o poeta até viver,

entre a alegria e a tristeza.

Pode assim voltar a crer

e crer também faz parte da beleza.

Quando, prudente,

escolhe a palavra atada

é o rei da negligência.

Pois é que não, displicente,

pela rima errada

que acaba ser mestre em coerência?

Quando, já cansado, do ritmo e sinfonia,

torna o verbo inacabado

e a estrofe tão vazia.

Pela dor, chora amor, cria ardor,

inala o gosto das flores

e os sons da metria.

O cinza transforma em cores;

do incolor faz poesia.

E assim, prende-se, repreende-se,

escapa de novo dos porões.

E por palavras, inconsciente,

vende-se, rende-se,

mesmo inocente,

aos seus grilhões ..."

Andrea Sá
Enviado por Andrea Sá em 07/04/2009
Código do texto: T1527712