ALEM DE BOJADOR

ALEM DE BOJADOR.

Vou embora pra Bojador!

Sem escudeiro com muito amor.

Cruzar as terras de D. Henrique.

Lá, meus amigos são príncipes.

Vou ao encontro de Gil Eanes.

O bravo descobridor, que...

Dobrou o Cabo do Medo.

E deu-nos mares e ledos.

Sou amigo do Infante.

Não faltara doce amante.

Nem barcos ágeis e possantes.

Nos oceanos salitres.

Vou conhecer Mama África.

Sob o calor do Saara.

Singrar o Cabo do Não.

Morrer por outra paixão.

Gomes Eanes de Zupara.

Guarda da Livraria Real.

Irá exaltar meu nome.

Como exaltou Gil Eanes.

Lutarei na Mauritânia.

Contra os vis Mulçumanos.

Pois querem destruir Portugal.

Roubar sua Glória Naval.

Como bom navegador ter cuidado.

Num alto mar sem profundidade.

Pois distam dois metros de altura.

E pode quebrar a estrutura.

Somos quase trinta toneladas.

Uma única vela ao vento.

Redondo, repleta de remos.

Semi coberta para o tempo.

Altíssimos recifes pontiagudos.

Formados pelas areias do Saara.

Obriga-nos a navegar para o Oeste.

Afastando-nos da Costa Africana.

Um dia longe dali.

Avista-se a Baia de ventos amenos.

Rumando para sudeste em paz.

Os medos de Bojador ficam para trás.

Leio Fernando Pessoa...

Neste mar de calmaria e tal.

Onde cita o mar salgado.

Que são lágrimas de Portugal.

-E por cruzá-los, quantas mães choraram,

Quantos filhos em vão rezaram,

Quantas noivas ficaram por casar;

Para que fosses nosso, Ó Mar!

Poesia sobre Bojador, “O Cabo do Medo” localizado no Saara Ocidental, África, perto das Canárias, e sobre Gil Eanes navegador português que o contornou em 1434, e colocou Portugal como nação marítima. Fernando Pessoa cita-o em “Mar Português”, na segunda parte do livro “Mensagens”, e o texto é finalizado com algumas citações do próprio autor. (Fernando Pessoa morreu jovem com o brilho e a idade de uma estrela).

Honorato Falcon
Enviado por Honorato Falcon em 28/04/2009
Reeditado em 17/12/2009
Código do texto: T1564146