O Espelho do Abismo

Quando você partiu,

Pensei que eu não fosse suportar,

Pensei que eu fosse enlouquecer,

Vi meu futuro desmoronando,

Vi meus planos se asfixiando,

Vi o quanto amar causa dor e sofrimento.

Eu me perdi sem teu ser ao meu lado,

Andando solitariamente por ruas e becos deteriorados,

E eu escondia as lágrimas que escorriam em meu rosto;

Olhando para o céu estrelado

Cheio de ódio e amargurado,

Detestando a si mesmo por não ter visto a verdade antes;

Veja o quanto os sentimentos que alimentamos podem nos cegar,

O quanto amar,

Seja o que for,

Pode, sem que percebamos, nos escravizar,

Ou sem que queiramos perceber.

Embriagado pela raiva e por arrependimentos,

mas arrepender-se ou ser perdoado

Não muda e nem altera o que foi realizado,

E eu queria puder despejar tudo o que sinto

Nas pessoas e nesse mundo desequilibrado,

porém não posso,

Não é justo,

remando por um rio desconhecido a esmo,

agora eu sei que é mais fácil perdoar quem nos ofende

do que perdoar a si mesmo.

Queimando todas as lembranças que restam de ti,

E do que vivemos;

Tentando seguir em frente com o pouco que sabemos,

Retirando forças de dentro de si mesmo

Em lugares que imaginei não existir mais nada.

Aprendi na própria carne os perigos de se apegar demais

A alguém ou a alguma coisa;

Compreendi todas as ciladas e torturas

que resultam de se amar, e do amor;

E na beira do abismo da Morte

Eu sorrio face-a-face com a minha Dor,

E me sinto tão vivo, e tão feliz,

Tão contente comigo mesmo por ter superado

Tudo o que vivi, fiz e não quis;

E ainda que fôssemos imortais,

Sempre haverá algo a se aprender

E nem a imortalidade seria o suficiente

Para tudo o que poderíamos conquistar e ser.

O mundo e a vida não foram criados por um deus,

E nem por um demônio;

E nem adiantar perder tempo tentando descobrir

Quem criou tudo e o que nós somos;

O mais importante é o que podemos realizar com a nossa própria existência,

Pois todo o resto são apenas conjecturas, e possibilidades

misturados com muitas incoerências,

por isso mesmo construa a sua própria realidade.

Causados pelo mundo, pela vida e pelas pessoas

Todas essas dores, feridas e cortes

Serão cicatrizados e apagados pela nossa segunda mãe

Que se denomina Morte;

Mãe a quem tanto tememos,

E de quem na verdade nada sabemos...

Viva o que tenhas para viver,

E não permita que a chama de tua existência

Seja vilipendiada e extinta por outro ser

Que não seja somente você.

Gilliard Alves Rodrigues

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 22/05/2009
Código do texto: T1608208
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