O que vai no meu poema...

O que vai no meu poema...

Vai o meu pensamento

O meu sonho

Os sonhos que não tenho mais...

Vai minha vontade

As vontades que tive

Os desejos que se desfizeram

Na iminência de existir

Que ficaram por aí

A esperar que os lembrasse novamente

Vai minha anulação

As impossibilidades

Certas agonias brutais

Da qual não se pode escapar

Mas que se resiste...

Vai a dureza deglutida

Por não se poder evitar.

Vai ai minha lágrima

Aquela que pensei derramar...

Vai a viagem que não fiz

Vai a morte que desejei

Vai a estrada onde fiquei

Vai o sonho de ser feliz

Vai a ilusão que tive um dia

De que tudo pudesse se ajeitar...

Vai meu mar de sonhos, imenso mar,

Vai tudo que eu queria, que quis...

E mais quis o que não pude alcançar...

Vai o amor

As coisas mais simples

As que me davam alguma alegria

Coisas tão básicas

Tão estranhas de se amar

Vai tudo no meu poema

Ele é carregado, avesso à tradução,

Tem sempre algo por trás

Sempre há um sentido a mais...

Vai o gesto que não fiz

As coisas que não pude ser

As decepções que causei

Sem nem mesmo saber

As dores que provoquei

Em quem nunca vou conhecer...

Vai meu perdão distorcido

A minha raiva que nunca cessou

Diante das coisas horríveis

Que arquitetaram para mim

Que me atingiram o rosto...

Cada golpe que não cicatrizou

Vai no meu poema,

Vai no meu poema

A reação que nunca começou...

Vai no meu poema

A mão que nunca se lançou

A me afagar num momento doído

Uma palavra que ninguém me falou

Vai o silêncio sempre ouvido

Nas noites que ninguém imaginou

Mas que sempre existiram,

Sempre meu ser se desencontrou

Por razões que não entendo

Por razões que nunca ninguém explicou.

Vai no meu poema amigos

Poucos que amealhei

Com meu jeito meio tosco

Vivendo a vida que encontrei

Que inventei com esses

Frangalhos de tudo que resultei

Vai minha gratidão

A todos àqueles que encontrei

E que me deram umas palavras

Uns ouvidos aos quais falei

Com um dilatado coração

Sob uma dor que não dissipei

Em momentos de extrema solidão

Vai minha gratidão

À todos os que me deram um empurrão

Vai no meu poema o que não sei...

Vai minha dúvida

A minha desconfiança,

Esse jeito de olhar...

Vai no meu poema sentidos escusos

Vontades de chorar

Vontades de sorrir

Vontades de gritar...

Vai tudo no meu poema,

E o que fica ainda é muito,

Eu não consigo abarcar...

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 29/05/2006
Reeditado em 02/06/2006
Código do texto: T165064
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