disse a mim
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"cada poema é uma oração"
possível sentir o ardor
o ardência da promessa
distando junto ao horizonte
diante dum sol que se dissolve
ao gélido dos olhos em confissão
"cada poema é uma oração"
sob a orfandade do cotidiano
enredado de incongruências
como se alma das imagens
gritassem ao fundo do jardim
"cada poema é uma oração"
por destras das folhas de alecrins
mofam os versos dos pensamentos
e os orvalhos amanhecem sobre
as feridas e musgam a poesia
"cada poema é uma oração"
o cair da tarde avermelha e o vento
graceja sorrateiramente o granito,
sob o linho está a face de ossos rijos
em grafismo de trincados sentidos
"cada poema é uma oração"
os cães ladram ao mesmo tempo
que a palavra avança enraizada à terra
em gestos, cantos d’almas e rumam
e vagueiam como escrituras de tola lavra
"cada poema é uma oração"
sibilos de destros caminhos, veios de areias
faces d’águas, línguas, sílabas e visgos
todo tempo a oscilar sobre as pálpebras dos dias
e a ortografia, da vida, entre gravuras cintilam
"cada poema é uma oração"
como o amor e a cólera, vagarosamente.
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