CONVERSA COM CRISTO
Andava, solitário, por entre o vão
De meus pensamentos
Quando, subitamente, parei
Ante a uma imagem
Refletida em um espelho...
Causou-me repulsa a imagem
Ali refletida, fitando-me...
Levando-me a uma realidade
Que, por vezes, tento fingir
Que realmente não existe...
Porém, atrás dessa imagem
Que no fundo d’olhos me fitava
Notei que outra, dentro do espelho,
Também lá estava, dentro d’alma
Fazendo-ma sentir entrar...
Era Cristo pendurado na parede...
Virei-me, deixando pra trás
A imagem que no espelho me fitava
E, de joelhos, ali prostrei-me
Ante àquele Cristo de madeira e,
Por uma força estranha, com essa imagem
Comecei a conversar...
“Por que, Senhor,
Faz-me ver, tão hedionda imagem
A um espelho olhar...?”
“Por que, Senhor,
Deste-me esta imagem, que a ninguém
Interesse algum desperta...?”
“Por que, Senhor,
Fizeste-me com esta imagem, que amor
De alguém nunca me trouxe...?”
“Por que, Senhor,
Por que...?
Responda-me, por favor...”
Banhados em lágrimas, meus olhos,
Elevei-os à imagem acima de mim
Esperando, nos lábios da imagem,
Ver o movimento de uma resposta...
Mas nada disse-me aquele Cristo de madeira...
Ao chão agora espalhados e unidos pela dor
Um espelho partido, lágrimas e sangue...