Encontro no Dia Seguinte

-Ei, cara, quê fazias ontem na beira do cais, andando sozinho?

-Meu caminho eu procurava.

-Quê caminho pode haver na beira de um cais?

-Muito mais que uma lembrança.

-Tu pareces a criança que perdeu a madrugada.

-E nunca mais foi encontrada porque achou o que sonhou.

-Qual o sonho que se pode encontrar na noite fria?

-A beleza da magia que me trouxe o arco-íris.

-É isso? E qual é a importância de querer ser mais feliz?

-Não sei. Eu só sei que quero achar o que não posso perder.

-É um projeto infeliz. Tu não tens o que fazer?

-Eu não gosto de escolher. Busco aquilo que pintar.

-Já pensou em mergulhar entre os barcos e sumir?

-Já pensei em ingerir toda a tua alocução.

-E então? Não seria o resultado para uma busca insana?

-Para uma vida humana, mas não acho que pra mim.

-Tu te achas algo assim como um ser iluminado?

-Eu não sou o resultado do que queres que eu seja.

-E o que queres para ti, não percebes que é pior?

-É apenas o melhor que te posso oferecer.

-A mim, não! Como posso entender um cara todo encucado?

-Procurando lado a lado pela mesma solução.

-Por que achas que é bom pra mim aquilo que não tens?

-Veja bem: não sou ninguém se não posso te alegrar.

-Ah, é? Vou então sair na noite indo em busca de um caminho?

-Ou ficar no teu cantinho por não ter o que achar.

Rio, 16/04/2006