A vida rotulada

À beira da mata de verde intenso

da chapada diamantina,

nascente, quase divina,

de muitos rios e imensos;

vive um sábio quase centenário

que não acha graças, abomina,

a vida aprisionada à fração de horários,

a vida rotulada nas vitrinas.

Um vetusto caçador de diamantes,

dos idos tempos de peleja,

que não tem crença na infalibilidade da riqueza;

tampouco, na vontade política dos pátrios governantes.

Este sábio natural, embevecido

com a bondade que irradia da chapada;

embora, de fome tenha padecido,

acha sua vida uma dádiva.

Todavia, não se encanta jamais

com a modernidade da vida rotulada

e exposta,diuturnamente, nos murais

e nos jornais e nos vitrais e nos canais

e revestida d’uma felicidade ensaiada.

É antiquado, este homem meio medievo,

aos conceitos das pessoas pós-modernas.

Contudo, transcende a tudo que escrevo

a lucidez que sua sabedoria revela.

E não lhe acomete as supérfluas carências

da moda, da mídia, da exposição, do fast-food, embalados para viagem.

Pois que o viver, o prazer e o saber conjugados à decência

explicitada no cotidiano, bastam-lhe na vida - esta exígua passagem -.

Cid Rodrigues Rubelita
Enviado por Cid Rodrigues Rubelita em 12/06/2006
Código do texto: T174103