Quem escreveu estes versos não fui eu.
Foi meu eu outro eu que chega sempre quando não estou,
Quando viajo para regiões distantes de mim,
E não volto a tempo de impedir sua entrada
No território em que estou manifestado.
 
Aí ele chega e senta-se na minha cadeira favorita,
Fuma o meu cigarro e bebe minha cerveja.
Depois escreve um verso, ás vezes debochado, 
Depois vai-se embora para lugares onde não posso ir
Assim nunca posso lhe cobrar por esses deboches.
 
O toco do cigarro entortado cientificamente no cinzeiro
É a prova irrefutável de que ele esteve aqui.
Sim, o desgraçado esteve certamente aqui.
O resto da espuma prateada no fundo do copo
Não deixa nenhuma dúvida- ele esteve de fato aqui!
E esse verso rabiscado nesta folha em branco!
-Eu sei que ele esteve aqui!-
 
Olho para isso tudo e não sei realmente,
Se fico triste ou feliz por ter um outro eu
Que escreve poemas de madrugada.
Não sei se ele é mais triste ou mais alegre do que eu.
Mais do que eu mesmo tento ser.
Mais do que as ondas que vão e voltam para o grande oceano
E nunca dizem porque fazem isso.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 10/08/2009
Reeditado em 08/07/2011
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