Eu sou feito da mesma essência que as gotas de chuva
E as rosas do meu jardim.
Mas eu não sou chuva e muito menos uma flor.
Eu sou uma síntese que ganhou interioridade.
Certamente eu poderia ser qualquer coisa no universo
Se não tivesse perdido, na complexidade das metamorfoses sofridas,
Toda a irmandade que tenho com a pluralidade primitiva da matéria.
 
Ao longo da flecha do tempo,
dividido até a mais ínfima particularidade
Eu encontraria a minha primitiva fórmula.
Mas de que me serviria ser apresentado ao meu eu elementar,
Esse grão primitivo de poeira cósmica, infinitesimal e infinito,
Esse ser pluralistico, energético e uno,
Se nele eu não puder ver o meu próprio rosto?
 
No mais ímenso de mim desaparecem todas as propriedades do meu ser.
No mais ínfimo de mim eu sou todos os seres.
Mas nos dois limites de mim sou além de mim e aquém do que sei de mim.
Cada grão de mim tem sua própria singularidade.
Cada grão de mim é múltiplo e retém as propriedades do todo.
Cada grão de mim é eventual e se torna fato a cada nova relação.
Eu sou um sistema, um totum e quantum.
 
 
 
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 12/08/2009
Reeditado em 08/07/2011
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