Por Quem?
POR QUEM?
Por quem me iludo no grito tão rude.
Por que desespero no falso alude.
Por quem o meu grito ressoa tão forte.
Será pelo filho, ou pela má sorte?
Porque escangalho a minha garganta.
O berro é tão grande que a alma espanta.
Eu sinto o vazio depois desse grito.
Por quem esse grito na plebe tão rude?
De cara pintada e a rota bandana.
Desdenho a mãe que a outra pariu.
Sorvendo um gole da eterna bebida.
Um grito aos onze no canto servil.
Olho o menino de cara espantado.
Que chora e ri com a fome ao lado.
Por quem me iludo no grito tão rude?
Será pelo filho ou a bandeira no cume?
Porque esse berro do fundo do peito.
Não moro na praia, moro no beco.
Porque não corro atrás do meu sonho?
Sonhando acordado com o sonho do outro?
Porque eu não pego na mão do menino.
Porque eu não troco a dor pelo tino.
Porque não sonho sonhar o meu sonho?
Porque eu só perco até quando ganho?
Eu grito e meu grito é um eco vadio.
Eu berro meu canto que ecoa espanto.
Eu quero urrar assustar minha alma.
Eu quero cantar e medrar minha calma.
Medrar esse medo que medra o tirano.
Tirar do meu peito esse hino insano.
Cantar como canta o pássaro na aurora.
Honrar a bandeira no mastro lá fora.
Chamar o garoto conter o seu choro.
Brincar de castelo com ele na areia.
Fisga-lo, prende-lo na tênue teia.
Que a luz me aponta e a trilha clareia.
Eu quero bradar minha voz pelo time.
Mais quero andar com você pela liça.
Vibrar com os gols como vibra Pelé.
Sentir sua vida com amor e com fé.
“Aos meninos do Brasil”