FÊNIX
Devolvo-me à flor da terra, de volta as cinzas
A carcaça cansada, impregnada medula óssea adentro
Retina afora, como a extensão inexata entre o céu e a terra
Entre galáxias e estrelas, entre o paraíso e o inferno
Fui andarilha errante, nasci do acaso, do vento
Tenho em mim marcas das curvas, das chicotadas do tempo
Minhas demandas com o destino, obstinadamente,
Remando em círculos, no querer de minha mente
Só fui andarilha errante....
Devolvo-me então de vez às cinzas, o castigo merecido
Minha medula assim exposta, minha retina burra
Devolvo-me em absoluta covardia, fugindo das trevas
E da luz do meio dia, minha guerra santa
Meu silencio em pedras, minha face orvalhada
Pelo criptar do sol, pelo sal da lua.
Já sou por destino errante, piso em terras estranhas
Tomo por posse bandeiras que não me pertencem
Bebo do cálice alheio, não sei se de vinho ou de sangue,
Mas bebo, e bêbada então ando em cordas bambas
Como uma andarilha errante...
Devolvo-me então à terra, volto sim as cinzas, fênix
Que renasce, uma chance, um tempo, um novo cálice
A águia no ninho, arrancar-lhe o bico, as unhas, as penas
Saltar despenhadeiro abaixo, num vôo solo, solitariamente,
E voltar de novo ao caminho, ser andarilha errante...