Tesouro Declarado

No meu quarto distante,

está escondido entre os

móveis empoeirados minha

caixa de tesouro.

Meu tesouro esquecido e

retinto, cheio de dor e mágoa.

Neste enevoado tesouro, encontrá-se

meu sonho retorcido, meu desejo oculto.

Declaro-me fraco. De fraqueza

incapaz de demonstrar-se triste.

Do amor já desisti, da princesa

platônica que mora em peito, já

desisti.

Neste mundo ermo e gigante

moram as artificialidades, mora o

vírus aparente, que domina todo

o mundo.

Onde está meu coração perdido.

Que esqueci com meus sentimentos?

Onde está aquele mundo que os

poetas cantavam e recitavam?

Mentiras!

Iludiram-me e esqueceram-se de

avisar-me.

Aquele encontro marcado,

aquele beijo prometido,

aquele verso escrito,

e aquele peito vago.

Todos caíram pelo ralo

do meu sono.

Você está aqui agora na minha frente.

Será verdade? Será verídico?

Talvez não seja, é real demais para

ser verdade.

É um sonho muito bom para ser

meu.

Contento-me com minha caixa de

tesouro. Contento-me com a utopia.

Essa doce neblina que ensurdece,

apaga sua aparência de minha

lembrança.

Nesse quarto sem fé, nesse olho azul,

nesse olho castanho, nessa boca perfeita,

nessa epifania dura e real, onde está

você?

Você que no meu sonho

prometeu aparecer,

você que no mar azul

me acenou, e com a voz

mansa disse-me...

Não me lembro, essa ilusão

apagou minha memória.

No meu quarto solitário

eu jogo lenha para queimar,

todos esses devaneios incoerentes.

Declaro-me infantil, insano, romântico,

cruel, solitário. Declaro-me enquadrado

na minha realidade e preso no monte

de fantasias. Declaro-me seu e nego

até o fim. Declaro-me dolorido e

insatisfeito, falso e épico.

Declaro que já não sei o motivo de tanta

ansiedade.

Freitas de Carvalho
Enviado por Freitas de Carvalho em 20/06/2006
Código do texto: T179355